Imagine só. Um garoto de 15 anos, que mora bem no interior do município de Itaboraí (RJ) e que precisa acordar às 4h30 da manhã, andar de bicicleta por mais ou menos 40 minutos para chegar ao centro da cidade, pegar um ônibus, com pouquíssimos horários de funcionamento, para finalmente chegar à escola. Esse mesmo adolescente ainda vende salgados para ajudar a custear seus estudos e nunca havia viajado. Até que...

Essa é a história, mais do que real, de Davi Macabú Campos, aluno do segundo ano do Ensino Médio da Escola Firjan SESI São Gonçalo. Ele é um dos mais de 2 mil estudantes que irão participar do 5º Festival SESI de Robótica, a maior competição de robótica do país, que acontece entre os dias 15 e 18 de março, em Brasília.

Davi faz parte da equipe Tech Fênix, uma das três existentes no estado para participar da categoria FIRST Tech Challenge (FTC), tradicional competição internacional de robôs. E de onde veio o interesse pela robótica? Davi conta que começou quando ele ainda era bem pequeno, quando assistiu ao programa “Turma da Robótica”, do Canal Futura, e ficou “fascinado por aquilo”.

“Me lembro que, no programa, eles mostravam algumas equipes de robótica treinando, explicando do que se tratava, o que esses grupos faziam... Passei boa parte da minha infância desmontando motores de geladeira, ventiladores, etc., junto com meu avô. E achava aquilo o máximo, pois eu não entendia como que uma caixa de metal poderia fazer algo girar”, diverte-se Davi.

O menino que amava desmontar as coisas teve a primeira parte do sonho de criança realizado ao conseguir entrar na Escola Firjan SESI São Gonçalo. Mais especificamente, quando teve acesso à Tech Fênix. “Sempre quis entrar em uma escola que me desse essa oportunidade, que, até então, era inacessível”.

Lá vem o Festival SESI de Robótica!

O momento mais esperado por jovens robotiquers como Davi está finalmente chegando. Nesta temporada, crianças e adolescentes de 9 a 18 anos devem buscar soluções para desafios ligados à temática central do evento: energia. Para isso, eles aplicam conceitos de ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática (em inglês, a metodologia se chama STEAM) para criação de projetos de inovação, além da construção e programação de robôs, que devem completar missões.

Na categoria FTC, o Rio de Janeiro será representado por três equipes das Escolas SESI: Alpha Byte, de Jacarepaguá, Tech Fênix, de São Gonçalo, e Ragnarok, de Macaé. Nesta categoria, estudantes de 14 a 18 anos são desafiados a projetarem, programarem e construírem robôs capazes de realizar tarefas. Os robôs são feitos com um kit de peças reutilizáveis, com tecnologia Android e podem ser codificados usando uma variedade níveis de programação baseada em Java e Blocks.

Participação das Escolas Firjan SESI

A temporada nacional de FTC deste ano se chama Power Play. Contribuir para que os competidores desenvolvam habilidades como comunicação, resolução de conflitos, tomadas de decisões e raciocínio lógico é a grande finalidade da FTC. Tudo de uma maneira e conjunta. A Alpha Byte, por exemplo, é formada por sete alunos e um mentor. “Estamos muito confiantes com a nossa participação, desejamos avançar para a etapa internacional, em Houston, nos Estados Unidos. Estamos treinando muito, todos os dias, com muita alegria e união. E, nos finais de semana, ainda realizamos reuniões remotas”, conta Marco Antônio Soares Coelho, professor da Escola SESI Jacarepaguá.

Diretamente da Escola Firjan SESI Macaé, a Ragnarok irá levar para Brasília 15 competidores e dois mentores, com idade entre 16 e 18 anos, todos alunos do segundo e terceiro anos do Ensino Médio. Durante o Torneio regional SESI de Robótica, realizado em Caxias em dezembro do ano passado, houve um amistoso entre as equipes para participação no 5º Festival SESI de Robótica. É o que conta o professor da Ragnarok, Ronald Rodriguez Costa, explicando que, em todo o estado do Rio de Janeiro, só há três equipes de FTC.

Os desafios, segundo Ronald, são muitos. “O maior deles é o tempo apertado que temos, pois nossos competidores estudam em tempo integral. Além disso, sofremos com o atraso do envio das peças para a nossa cidade, visto que entramos na FTC no final do ano passado. Porém, isso acabou se tornando nosso diferencial. A garra do nosso robô acabou sendo feita com material de sucata, o que é algo bem inovador”, destaca.

Quem também participa pela primeira vez da FTC é a Tech Fênix. O professor Jonatan Lins de Queiroz conta que eles irão levar para Brasília um robô muito versátil, capaz de se mover rapidamente pela pista e executar as tarefas de colocar cones em hastes de diferentes tamanhos. Além da competição de robôs, eles ainda irão participar de uma série de atividades realizadas com a comunidade STEAM.

Davi é um dos alunos de Jonatan. Apaixonado por montagem. E o 5º Festival SESI de Robótica é mais uma oportunidade para o garoto de Itaboraí dar sequência à prática dos seus sonhos de menino e de pensar no futuro. “Trabalhar com robótica é algo que eu quero pra minha vida, com certeza. Quero estar nessa área ou na Engenharia Mecatrônica. É o que gosto de fazer. Essa é a minha vocação”, afirma ele, categoricamente.